
A transformação digital, impulsionada pelo uso de IAs generativas, deixou de ser tendência para se tornar condição de sobrevivência. É isso mesmo, segundo um estudo da McKinsey, empresas que não digitalizarem suas operações até 2025 podem perder até 25% de sua competitividade, um risco que nenhuma liderança quer assumir, certo? Satya Nadella, CEO da Microsoft, sintetizou bem esse cenário ao afirmar: “cada empresa será, em última instância, uma empresa de tecnologia.”
Mas não estamos apenas falando de uma mudança tecnológica, trata-se também de transformação cultural que aborda várias nuances: resistência, medos e falta de clareza estratégica, por exemplo. É por isso que o papel do CTO nunca foi tão central. A pessoa que está nesse papel não é apenas a guardiã da infraestrutura, mas a arquiteta de um núcleo digital robusto, capaz de combinar velocidade, adaptação e confiança em escala.
Na era da inteligência, liderar tecnologia vai muito além de adotar ferramentas de IA ou modernizar sistemas. Exige um olhar estratégico e humano, capaz de conectar inovação à cultura, dar propósito às mudanças e transformar riscos em vantagem competitiva. Nesse artigo, apresentaremos cinco prioridades que definem a nova liderança técnica dos CTOs. Confira!
Saber se diferenciar no hype do mercado tecnológico
Na era da inteligência artificial, em que modelos de IA generativa e sistemas autônomos estão amplamente disponíveis, o papel do CTO é garantir que a tecnologia não seja apenas adotada, mas transformada em diferencial competitivo.
Isso exige ir além do uso de modelos prontos, desenvolvendo soluções proprietárias e integrando a IA a outras tecnologias emergentes como IoT, blockchain e computação quântica. Esse processo de transformação da commodity de IA no prato principal vai além da abordagem técnica, a liderança de TI terá de explorar também o fator humano como elemento indispensável para essa receita, combinando inteligência algorítmica com julgamento e personalização humana.
Mais do que executor técnico, o papel da pessoa CTO será de um arquiteto estratégico, educador interno e curador de possibilidades, conduzindo a organização a adotar decisões baseadas em dados, estruturas distribuídas como o Data Mesh, inovação contínua com IA generativa e metodologias ágeis que reforcem adaptabilidade.
Criar arquiteturas mais abertas, adaptáveis e escaláveis
Infraestruturas rígidas e legadas não acompanham o ritmo da IA generativa porque foram projetadas para estabilidade, não para experimentação e escalabilidade. Para mudar isso, o CTO precisa garantir arquiteturas abertas, adaptáveis e preparadas para o futuro, com dados centralizados, modelos plugáveis e interoperabilidade que suportem novos serviços sem grandes retrabalhos.
Essa flexibilidade técnica é o que viabiliza a experimentação real com IA, permitindo testar hipóteses e validar inovações em ciclos curtos sem paralisar a operação. No entanto, a busca por velocidade cobra seu preço: a dívida técnica, resultado de atalhos tomados para atender demandas imediatas, acumula “juros” que podem engessar sistemas, aumentar bugs e reduzir a confiabilidade.
O equilíbrio, portanto, está em gerenciar essa dívida de forma estratégica, aceitando que algum nível dela é inevitável, mas definindo limites claros, integrando sua gestão ao backlog e destinando ciclos específicos para mitigação desses problemas. Assim, a liderança de TI deve conseguir sustentar a inovação contínua sem comprometer a saúde da arquitetura, usando automação, boas práticas de codificação e ferramentas modernas de DevOps e IA para manter a base técnica limpa e preparada.
Cuidar de talentos interdisciplinares
A inteligência artificial exige talentos interdisciplinares e, nesse cenário, a pessoa CTO precisa se tornar uma construtora de pontes. Isso significa que ela deve liderar a formação de equipes diversas, muitas vezes fora do perímetro tradicional da TI, e desenvolver a capacidade de dialogar com áreas não técnicas e com outras lideranças estratégicas.
Segundo a pesquisa global da McKinsey “Investing in the future of tech: Lessons from winning companies”, empresas de melhor desempenho são justamente aquelas que conseguem alinhar inovação tecnológica com mudanças organizacionais e culturais — criando condições para que a transformação seja incorporada ao dia a dia, e não apenas adotada de forma superficial.
Esse alinhamento passa pelo desenvolvimento de talentos preparados para o futuro, com programas de requalificação, treinamento e aprendizado contínuo.
Experimentar de forma responsável
Experimentar não é testar sem rumo. Um dos erros mais comuns é tratar pilotos como iniciativas isoladas, sem conexão com o futuro da empresa. Cabe ao CTO garantir que cada piloto já nasça com visão de escala, com métricas de negócio claras, engajamento das áreas-chave e alinhamento dos stakeholders desde o início.
Quando o piloto é criado sem vínculo com a estratégia ou sem respaldo jurídico, compliance e governança de dados, ele trava nos detalhes esquecidos no começo e dificilmente avança. O mesmo acontece quando a pressa leva a apostar em múltiplos casos de uso ao mesmo tempo: recursos se dispersam, prioridades se confundem e as soluções que realmente importam não ganham tração.
Experimentar de forma responsável é exatamente o oposto disso. É testar rápido, sim, mas com propósito, governança e visão de futuro. As empresas que conseguem evoluir dessa fase são aquelas que desenham um roteiro claro de expansão desde o primeiro piloto, antecipando ajustes e dores que aparecerão pelo caminho. Assim, a inovação deixa de ser um ensaio e passa a ser estratégia.
Inovar sem deixar de lado a ética, a confiança e a transparência
O CTO de hoje não pode escolher entre inovar ou preservar a ética, ele precisa equilibrar os dois pratos ao mesmo tempo. Esse equilíbrio se traduz em três movimentos:
- Integrar ética e transparência desde o desenho das soluções, garantindo que pilotos e projetos de IA já nasçam com governança de dados, explicabilidade e participação dos stakeholders;
- Transformar a TI em uma função estratégica e cultural, não apenas técnica, o que implica comunicar valor, engajar colaboradores e traduzir tecnologia em impacto de negócio;
- Atuar como “Augmented CTO”, termo usado no estudo “Tecnologia e a transformação do C-level no Brasil” para fazer referência a um líder técnico híbrido que orquestra ecossistemas, atrae talentos interdisciplinares, evangeliza a cultura digital e, sobretudo, se posiciona como guardião de riscos, segurança e confiança.
Ao unir velocidade de inovação com responsabilidade, o CTO se torna não apenas o executor de uma agenda tecnológica, mas o protagonista de uma agenda empresarial sustentável!
Mas, apesar desses vários papéis que uma liderança de TI deve assumir, é importante que a pessoa nessa posição também saiba quando é hora de parar. Sim, descubra como o “vazio criativo” é uma ferramenta estratégica na tomada de decisão.