
Entre velocidade e estrutura, muitas empresas vivem um paradoxo perigoso. De um lado, organizações obcecadas por quick wins (entregas rápidas), que, se não são bem estruturadas, acumulam “remendos tecnológicos”, criam dívidas técnicas e tornam sua arquitetura cada vez mais frágil. Do outro, temos empresas que planejam durante meses, criam comitês, camadas de validação e frameworks — e, no fim, entregam pouco, tarde ou fora de contexto.
Nem rápido demais a ponto de gerar fragilidade, nem lento a ponto de perder relevância. É isso mesmo, um CIO moderno precisa encontrar o equilíbrio entre os resultados acelerados que sustentem o patrocínio executivo, sem comprometer a maturidade tecnológica de amanhã. Como fazer isso?
A seguir, vamos explorar cinco pilares essenciais para montar um portfólio de transformação realmente sustentável: o que são (e o que não são) quick wins, o papel das iniciativas estruturantes, um framework para balancear o portfólio e como medir e comunicar o valor de cada frente.
O que são quick wins — e o que não são
Quick wins são aquelas entregas que geram impacto perceptível em pouco tempo, usando recursos limitados e com baixo risco operacional.
Em tecnologia, bons resultados rápidos incluem automação de tarefas repetitivas, otimizações de performance, estabilização de APIs críticas, pequenas melhorias de UX, ajustes de segurança, ou integrações simples que reduzem retrabalho.
O que não podemos considerar um quick win?
Muitos CIOs caem no erro de classificar como quick win algo que “deveria ser simples”, mas que, na prática, está acoplado a sistemas frágeis, processos mal definidos ou dados inconsistentes. O resultado é conhecido: atraso, retrabalho e perda de confiança no roadmap.
Não são quick wins:
- Projetos que dependem de refatorações grandes (“vamos só ajustar esse módulo”, que exige reescrever metade do backend);
- Iniciativas com dependências entre squads, integrações legadas ou ambientes pouco estáveis;
- Implementações que exigem mudança cultural ou adoção massiva de times inteiros — por exemplo, adotar FinOps de forma corporativa;
- Soluções que parecem simples, mas exigem alinhamento com segurança, jurídico, dados e compliance (por exemplo, liberar uma API que requer revisão de governança ou classificação de dados);
Se você ainda tem dúvidas sobre o que são e o que não são vitórias rápidas no seu dia a dia tech. Recomendamos a leitura do nosso Mapeamento de Quick Wins

O papel das iniciativas estruturantes
Considere um exemplo simples: automatizar o atendimento de primeiro nível pode reduzir o volume de tickets em poucas semanas. Um claro quick win, certo? Não é bem assim. Isso porque sem uma arquitetura de dados consistente, pipelines confiáveis e uma camada de governança adequada, esse mesmo chatbot, que parecia ser uma entrega rápida com resultados quase instantâneos, poderá virar uma grande dor de cabeça. Como assim?
Esse seu funcionário virtual começará a quebrar, gerar respostas inconsistentes e aumentar o retrabalho do time. Em resumo, a velocidade tech sem sustentação de dados consistentes, é eficiência que dura pouco.
Por outro lado, investir apenas na fundação — como modernizar integrações, padronizar APIs ou criar um catálogo de dados — e passar meses sem nenhuma entrega visível acaba minando a confiança do board. Quando isso acontece, o patrocínio executivo enfraquece e a transformação perde tração antes mesmo de ganhar escala.
Quer ver um exemplo prático do que estamos expondo aqui? De acordo com estudo da Deloitte, boa parte do sucesso na adoção de agentes inteligentes depende de fundações sólidas de dados e governança — o que reforça que iniciativas estruturantes são o motor invisível da inovação.
Comunicar esse valor ao board é essencial. Líderes precisam mostrar que cada real investido em base reduz incidentes, acelera entregas e minimiza dependência de correções emergenciais.
Framework para balancear o portfólio de transformação
Equilibrar velocidade e estrutura exige um modelo claro de priorização. A famosa matriz Impacto x Esforço pode ser sua grande aliada nessa jornada.
Quando você classifica cada projeto do portfólio segundo esses dois critérios, algo essencial acontece: a disputa subjetiva por prioridades dá lugar a uma visão objetiva, compartilhada e visual do que realmente faz diferença. Ao distribuir suas iniciativas nos quatro quadrantes, alguns padrões ficam imediatamente claros:
Baixo esforço + Alto impacto
São os quick wins genuínos. Aqui entram automatizações, ajustes de fluxo, correções de processos e melhorias que destravam gargalos. Focar neles traz resultados rápidos, melhora o moral da equipe e gera confiança do board.
Alto impacto + Alto esforço
São as estruturantes. Arquitetura de dados, automação de segurança, modernização de integrações, padronização de APIs, adoção de observabilidade — tudo o que sustenta eficiência no médio e longo prazo. Elas não geram ganhos imediatos, mas criam as bases para que os quick wins não virem remendos de curta duração.
CIOs de alta performance distribuem o portfólio considerando horizonte de tempo e natureza da entrega. Um framework equilibrado tipicamente mantém:
- Quick wins: automações de atendimento, melhorias de performance, dashboards operacionais. (30%)
- Estruturantes: modernização de APIs, unificação de dados, landing zones em nuvem, práticas de SRE. (50%)
- Exploradoras: pilotos de agentes autônomos, PoCs de IA generativa em processos complexos, ambientes de simulação.(20%)
O resultado dessa mescla é a velocidade sem caos. Estrutura sem travas e inovação com propósito.
Como medir e comunicar o valor de cada frente
Para evitar que quick wins pareçam apenas pequenas melhorias e que iniciativas estruturantes soem vagas ou distantes, a liderança tech precisa traduzir cada frente em valor mensurável e comunicá-las de forma clara para o negócio. Isso significa mostrar como cada ação melhora a jornada, reduz riscos, elimina gargalos técnicos ou acelera futuros ciclos de entrega.
A seguir, vamos dar alguns exemplos práticos de como medir e comunicar os ganhos rápidos e estruturantes para a empresa. Confira!
Métricas para quick wins
Vamos pensar que você comanda uma equipe de desenvolvedores de um e-commerce que já detectou uma série de fricções na jornada de compra. Eis aqui alguns exemplos de quick wins, como medi-los e comunicar:
Correção de erros de checkout
- Remover erros JavaScript recorrentes que impediam finalização da compra
- Métrica: Redução de falhas na jornada de compra (de X% para Y%).
- Valor comunicado: Removemos os erros que bloqueavam o pagamento e recuperamos até 12% das compras abandonadas.
Ajustes simples que destravam conversão
- Ajustar o comportamento dos botões “Pagar” ou “Realizar Pago” que não disparavam corretamente.
- Métrica: Aumento da taxa de sucesso do clique (ex.: de 68% para 94%).
- Valor comunicado: “Corrigimos um gargalo crítico que elevou em 26 pontos percentuais o avanço para a etapa final.”
Métricas para iniciativas estruturantes
Aqui o valor é mais estratégico do e-commerce: estabilidade, escalabilidade, segurança, governança e redução de risco.
Melhorias em arquitetura que permitem evolução
- Atualizar bibliotecas, modernizar pipelines, separar módulos críticos.
- Métrica: tempo de deploy reduzido, velocidade de criação de novas features, menor risco de vulnerabilidades.
- Valor comunicado: A atualização da arquitetura elimina riscos de segurança, reduz custo de manutenção e acelera a entrega das próximas iniciativas.
Eliminação de débitos técnicos que afetam a jornada
- Revisão completa de integrações legadas que geravam erros intermitentes.
- Métrica: redução de chamadas com erro, queda de timeouts, aumento de confiabilidade (SLA/SLO).
- Valor comunicado: A confiabilidade da plataforma subiu de 97,1% para 99,3%, o que reduz perdas invisíveis ao longo da jornada.
CIOs que dominam o equilíbrio entre curto e longo prazo criam não apenas resultados, mas credibilidade. Quick wins mostram que a TI entrega; iniciativas estruturantes mostram que a TI sustenta. No mundo atual, marcado por agentes inteligentes, automação end-to-end e transformações contínuas, o futuro dos negócios será híbrido: decisões rápidas combinadas com bases sólidas, velocidade somada à resiliência.
O líder que consegue harmonizar essas dimensões não apenas entrega projetos: ele constrói plataformas, fortalece cultura, eleva a maturidade digital e prepara a organização para uma década de mudanças.
Mas não é só de dados e de vitórias rápidas e estruturantes que uma liderança tech precisa. Ela precisa de momentos de ócio criativo para comunicar e incentivar novas ideias para sua equipe. Quer saber como fazer esse equilíbrio entre as entregas do roadmap e novos insights? Convidamos você à leitura de um artigo sobre o papel do vazio criativo na liderança.