Acelerando a transformação digital na saúde

A adoção de tecnologias no setor de saúde brasileiro é incipiente, com desafios estruturais que vão desde a interoperabilidade de sistemas até a capacitação de equipes para operar em ambientes regulados. Embora a maioria dos hospitais já tenha iniciado sua jornada tecnológica, o índice médio de maturidade digital ainda é de apenas 46,19%, segundo o estudo Mapa da Transformação Digital dos Hospitais Brasileiros publicado pelo portal Futuro da Saúde.

Nesse cenário, quais alternativas estratégicas podem ser usadas para acelerar entregas, reduzir custos e preservar a qualidade do atendimento? A adoção de squads multidisciplinares sob demanda é uma delas. Elas têm demonstrado ganhos mensuráveis em eficiência operacional e agilidade, especialmente em ambientes hospitalares que enfrentam pressões crescentes por inovação, compliance e experiência do paciente. 

Segundo estimativas da InforChannel, esse modelo pode gerar economias de até 30% em custos operacionais e 20% em recrutamento. Neste texto, vamos ver como essa estratégia pode destravar a inovação em um ambiente que exige velocidade, segurança de dados e qualidade assistencial.

Panorama de maturidade digital e a urgência de modernizar

A transformação digital em hospitais brasileiros vive um momento crucial. Muitos já adotaram elementos como prontuário eletrônico (81%) e prescrição digital (83 %), mas ainda enfrentam gargalos críticos: menos de 7% oferecem programas digitais voltados ao paciente, 71% não contam com treinamentos adequados e 80% lidam com sistemas sem interoperabilidade externa. O resultado? Um ambiente ainda “semi-digital”, em que até 9 % dos hospitais conseguem oferecer processos realmente sem papel. Esses dados reforçam a pressão para modernizar.

Um dos principais gargalos a serem enfrentados para isso é a interoperabilidade. A maioria das instituições de saúde opera com um mosaico de sistemas que não se comunicam entre si. O prontuário do paciente, por exemplo, muitas vezes fica fragmentado entre diferentes departamentos, como ambulatório, internação, laboratório de imagem. Isso dificulta a visão 360º do cuidado e abre margem para erros. Sem uma base de dados unificada e padronizada, a implementação de tecnologias mais avançadas, como inteligência artificial para apoio à decisão clínica, torna-se praticamente inviável.

Além disso, a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) adicionou uma camada extra de complexidade. Dados de saúde são classificados como “sensíveis”, exigindo das instituições um rigoroso controle de acesso, armazenamento e compartilhamento. A adequação à lei vai além de medidas jurídicas, pois demanda uma reengenharia de processos e sistemas para garantir que a privacidade do paciente seja cada vez mais garantida. Isso traz aos times de tecnologia um desafio técnico e de governança que muitas equipes internas, já sobrecarregadas, não conseguem endereçar com a agilidade necessária.

E há também a crescente pressão por parte dos consumidores (pacientes e seus familiares) por uma experiência cada vez mais similar que têm fora dos hospitais em termos de facilidades tecnológicas. A jornada do paciente (desde o agendamento de uma consulta, passando pelo atendimento via telemedicina, até o acesso a resultados de exames em um portal ou aplicativo) tornou-se um fator decisivo para a satisfação e fidelização. Instituições que não oferecem uma experiência digital integrada e intuitiva correm o risco de perder relevância em um mercado cada vez mais competitivo.

Os desafios críticos da jornada digital

E como chegar a esse modelo de saúde digitalizado? Antes de tudo, é preciso enfrentar barreiras que vão além da tecnologia. 

Governança clínica

Essa é a primeira delas. Qualquer ferramenta digital, seja um novo sistema de prontuário eletrônico ou um aplicativo de monitoramento remoto, precisa ser validada por médicos, enfermeiros e outros profissionais da linha de frente. A solução deve se integrar ao fluxo de trabalho assistencial sem criar atritos e, sobretudo, precisa garantir a segurança do paciente. Esse processo de validação clínica consome tempo e exige um diálogo constante entre as equipes de TI e as equipes assistenciais, uma sinergia que nem sempre é fácil de construir.

Integração com sistemas legados

Esse é outro ponto. Hospitais são ecossistemas complexos, com softwares de gestão (ERP), sistemas de informação hospitalar (HIS), sistemas de informação laboratorial (LIS) e sistemas de arquivamento e comunicação de imagens (PACS), muitas vezes de fornecedores distintos. Substituir todo esse parque tecnológico de uma vez é financeira e operacionalmente inviável. Portanto, a inovação precisa acontecer de forma incremental, conectando as novas soluções aos sistemas existentes por meio de APIs (Interfaces de Programação de Aplicação) e padrões de mercado, como o FHIR (Fast Healthcare Interoperability Resources). Essa tarefa exige conhecimento técnico especializado e uma arquitetura de sistemas bem planejada.

 Capacitação das equipes

A transformação digital não se resume a implementar software; ela implica uma mudança cultural. Profissionais de saúde precisam ser treinados para utilizar as novas ferramentas e para atuar em um ambiente altamente regulado do ponto de vista de dados. Da mesma forma, os times de tecnologia precisam compreender as nuances do setor de saúde, incluindo suas rígidas regulamentações (Anvisa, ANS) e a importância das métricas de valor em saúde — desfechos clínicos, experiência do paciente e custo-efetividade —, que diferem radicalmente das métricas de sucesso de outros mercados.

 Vale frisar que, segundo a consultoria McKinsey, a agilidade organizacional é um fator crítico para que instituições de saúde consigam responder rapidamente a mudanças regulatórias, demandas dos pacientes e inovações tecnológicas. Modelos ágeis, com times autônomos e multidisciplinares, permitem acelerar ciclos de entrega e reduzir o tempo entre a concepção e a implementação de soluções digitais.

Squad sob demanda: por que o modelo se encaixa na saúde? 

Aqui entra o modelo de Squad sob Demanda (ou Squad-as-a-Service), pois oferece agilidade com governança, um equilíbrio essencial diante da necessidade crescente de entregas rápidas e de conformidade regulatória rígida. Esse modelo consiste na contratação de times multidisciplinares prontos para atuar em demandas específicas, como projetos de telemedicina, integração com o prontuário eletrônico FHIR ou criação de portais para pacientes. 

Veja, abaixo, outros motivos para adotar esse modelo: 

  • Em vez de passar meses tentando recrutar profissionais com a rara combinação de competências técnicas e conhecimento do setor de saúde, a instituição contrata uma equipe externa já formada, coesa e com experiência comprovada;
  • O estudo da McKinsey de 2024 (Why agility is imperative for healthcare organizations) reforça que a capacidade de responder rapidamente às mudanças do mercado e às necessidades dos pacientes é um fator crítico de sucesso para as organizações de saúde. Os squads, por sua natureza, operam com base em metodologias ágeis (como Scrum ou Kanban), que priorizam a entrega contínua de valor em ciclos curtos. Isso permite que a instituição teste hipóteses, colete feedback de usuários (médicos e pacientes) e ajuste o rumo do projeto de forma rápida, minimizando riscos e otimizando o investimento;
  • Além da velocidade, esses times trazem um know-how regulatório que seria difícil e caro de desenvolver internamente. Squads especializados no setor de saúde já compreendem as exigências da LGPD, as normas da Anvisa e os padrões de interoperabilidade como o FHIR. Eles não precisam “aprender” o setor; eles já chegam prontos para construir soluções que nascem em conformidade com as regras do jogo. Essa expertise embarcada libera a equipe interna do hospital para focar em sua atividade principal: o cuidado ao paciente;
  • A cultura de melhoria contínua, intrínseca ao modelo de squads, garante que as soluções não se tornem obsoletas, mas evoluam constantemente com base em dados de uso e feedback.

Benefícios mensuráveis e cases com resultados concretos da abordagem

A adoção de squads sob demanda se traduz em benefícios financeiros e operacionais concretos. Uma análise dos dados da InforChannel aponta que o modelo:

  • pode gerar uma redução média de 30% nos custos operacionais totais de um projeto de TI. Essa economia vem da eliminação de despesas com recrutamento, onboarding, treinamento, benefícios e infraestrutura de trabalho para uma equipe interna;
  • tem um custo previsível e atrelado a entregas específicas, o que facilita o planejamento orçamentário e melhora o retorno sobre o investimento (ROI);
  • pode gerar uma economia de cerca de 20% nos custos diretos de recrutamento. Encontrar, entrevistar e contratar profissionais qualificados de tecnologia é um processo caro e demorado, ainda mais em um mercado aquecido, em que a disputa por talentos como arquitetos de software, cientistas de dados e especialistas em segurança da informação eleva os salários e os custos de contratação. Ao optar por um squad externo, a organização “pula” essa etapa, tendo acesso imediato a uma equipe de alta performance;
  • propicia uma velocidade de entrega (time-to-market) maior. Ao acelerar o desenvolvimento de soluções digitais, o hospital consegue responder mais rapidamente às demandas dos pacientes, o que tem um efeito direto em indicadores de satisfação como o Net Promoter Score (NPS). Um portal do paciente que funciona bem, um aplicativo para agendamento online ou uma plataforma de teleconsulta estável e segura melhoram a percepção de valor e fortalecem a marca da instituição. 

Casos práticos: da indústria à saúde

Confira na prática como o modelo de squad as a service está funcionando e reinventando os processos na área de saúde! 

Empresa global líder em tecnologia da saúde 

Uma empresa global líder em tecnologia da saúde enfrentou o desafio de adaptar para o mercado latino-americano um software de radiologia adquirido na Espanha, sem contar com uma equipe de Produto local. A responsabilidade ficou com o time de R&D Brasil, que precisava absorver um código legado complexo, adaptar funcionalidades e integrar a solução com sistemas hospitalares regionais.

A Maitha Tech foi escolhida como parceira para acelerar essa transição, estruturando em menos de 40 dias um squad completo com 11 especialistas. Após dois meses de imersão técnica com os engenheiros espanhóis, o time assumiu a gestão do software com total autonomia. Junto ao R&D Brasil, definiram um roadmap estratégico com foco em entregas de alto impacto clínico, utilizando um modelo ágil adaptado ao contexto do cliente, com governança contínua e priorização colaborativa.

Resultados

  • Squad formada e operando em menos de 40 dias;
  • Total absorção técnica do software em 2 meses;
  • Modelo ágil adaptado à realidade do cliente, com cerimônias enxutas e foco em entrega;
  • Roadmap validado com R&D e governança contínua de prioridades.

Uma alavanca estratégica para o futuro

O baixo índice de maturidade digital dos hospitais brasileiros não é apenas uma estatística; é um sintoma de desafios estruturais que demandam uma abordagem estratégica e pragmática. A jornada de modernização é complexa, marcada por sistemas legados, regulações rígidas e a necessidade urgente de melhorar a experiência do paciente. Tentar superar esses obstáculos apenas com recursos internos pode ser um caminho lento, caro e arriscado.

A contratação de squads multidisciplinares “prontos para uso” representa uma alavanca poderosa para acelerar essa transformação. O modelo oferece uma resposta direta aos principais gargalos do setor: entrega velocidade, garante expertise regulatória e otimiza custos. Ao permitir que as instituições de saúde lancem e evoluam soluções digitais de forma rápida e segura, os squads liberam as equipes assistenciais para se concentrarem no que realmente importa: a qualidade do cuidado.

Em um horizonte mais amplo, a eficiência e a autonomia demonstradas por esses times podem inspirar modelos organizacionais mais inovadores. O primeiro passo nessa direção pode ser simplesmente reconhecer que, para inovar, nem sempre é preciso começar do zero. Às vezes, a parceria certa é o atalho mais seguro para o futuro.Não é só o setor de saúde que está levando vantagem ao usar o modelo squad as a service. Confira também como o segmento de seguros está se beneficiando com squad sob demanda