Nos últimos anos, as mulheres foram empoderadas a assumir lugares de destaque em diversas indústrias e negócios. Mas, na prática, sejamos sinceros ainda existe uma grande lacuna entre homens e mulheres na tecnologia, certo?
Se você ainda tem dúvidas sobre o tema, basta responder às seguintes questões:
- Quantas mulheres na área de tecnologia você conhece?
- Elas são líderes?
- Recebem o mesmo salário que os homens quando os cargos são equiparados?
- Muitas delas são mães?
Certamente, são poucas as mulheres (ou nenhuma) que você conhece que preencham essas condições: é mãe, líder de equipe tech e recebe o mesmo salário de um executivo homem nas mesmas condições de carreira.
Uma pesquisa conduzida pela revista Fortune nos EUA, destacou que, embora as mulheres representem cerca de 47% da força de trabalho, apenas 26,7% têm empregos na indústria de tecnologia. No Brasil, esse dado é ainda pior. De acordo com levantamento do IBGE, apenas 20% das vagas tech são ocupadas por mulheres.
Entender os motivos que levam a essa disparidade de gênero no mercado tech é uma das missões deste artigo, bem como levantar soluções e ideias para a real inserção das mulheres no mercado de tecnologia. Confira!
Quais são os maiores desafios para uma mulher na área?
É difícil cravar em um ou dois motivos que repelem as mulheres do mercado tech. No entanto, há algumas boas especulações de especialistas que valem ser observadas.
A primeira é a falta de representatividade na indústria. Apesar de uma mulher, Ada Lovelace, ter escrito o primeiro algoritmo para ser processado por uma máquina (ainda no século XVII), tradicionalmente, a tecnologia é um campo dominado por homens. Como já destacamos, poucas são as mulheres que chegam ao topo nesse mercado.
A falta de mentoras mulheres na área, seguido de preconceitos culturais e sociais de gênero, machismo estrutural e assédio sexual no mercado tech são outras razões que os especialistas destacam como empecilhos para a entrada de mais mulheres na área de tecnologia.
Como resultado, elas se sentem incapazes de prosperar e sequer consideram uma carreira em tecnologia. Mesmo que tenham uma, elas têm 50% mais chances de deixar seus empregos do que seus colegas do sexo masculino. Por quê?
Boa parte dessas profissionais (85%) deixaram seus empregos devido a políticas inadequadas de licença maternidade como falta de creches e maternidades no escritório.
Mães no mercado de trabalho
Para muitas mulheres, a carreira e a maternidade são caminhos que não se cruzam. O medo delas de sair do mercado de trabalho após a gravidez se explica em números. A pesquisa “Licença-maternidade e suas consequências no mercado de trabalho do Brasil”, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), mostrou que quase metade das mulheres entrevistadas (48%) perderam seus empregos após a maternidade.
Segundo Renata Lino, fundadora da MommyTech, startup que trabalha na reinserção de mães no mercado de trabalho tech, muitas mulheres são demitidas após o processo de licença-maternidade. A própria Renata, formada em programação e MKT digital, foi vítima desse fluxo preconceituoso do mercado de trabalho.
“Na primeira gestação, estava para ser promovida a gerente, mas com a gravidez a promoção não aconteceu e, na volta da licença-maternidade, fui desligada da organização. Na segunda gravidez, me afastaram de um cargo de gestão e me colocaram como operacional após a volta da licença-maternidade”, conta.
Como resultado de todas essas práticas avessas ao universo feminino e de mãe, as mulheres, de uma certa maneira, se sentem desencorajadas a se aventurar na tecnologia.
E o que as empresas perdem com essa falta de representatividade feminina no universo tech? Veremos a seguir.
Benefícios de se investir na diversidade de gênero
Empresas diversificadas e inclusivas geram resultados inovadores e são mais lucrativas. Esse é um dos achados de uma pesquisa conduzida pela consultoria McKinsey sobre as consequências de se investir em uma força de trabalho mais inclusiva e diversa.
O mesmo estudo também encontrou uma correlação estatisticamente significativa entre liderança diversificada e melhor desempenho financeiro. As empresas que investem mais em diversidade de gênero na liderança têm 21% mais chances de ter lucratividade acima da média do que as empresas que não têm programas de lideranças femininas.
No entanto, a indústria de tecnologia ainda luta para incluir a diversidade e a inclusão como uma prática corporativa. E o percalço começa já na base, com a atração de talentos. Muitas empresas tech destacam que não conseguem atrair para seus processos seletivos alguns grupos minorizados, como as mulheres.
O resultado dessa matemática negativa da atração de talentos pode ser visto nos números abaixo:
- Apenas um em cada cinco estudantes de tecnologia é do sexo feminino;
- A parcela total de mulheres empregadas em tecnologia não chega a 30% e para as mulheres negras, a parcela fica abaixo de 5% apenas;
- No geral, mais da metade das mulheres na área tech entrevistadas relataram ter sofrido alguma forma de discriminação de gênero, em comparação com apenas 10% dos homens;
- As mulheres em cargos de gestão de tecnologia representaram 16% desses cargos em 2019, e apenas 3% de todos os cargos de CEO foram ocupados por mulheres.
Como melhorar equidade de gênero na área tech?
A missão começa já na base. Poucas são as mulheres que ingressam em cursos técnicos ou de graduação da área tech. Só para se ter uma ideia, de acordo com o programa YouthSpark, da Microsoft, no Brasil, apenas 18% dos graduados em Ciências da Computação são mulheres.
E como as empresas podem ajudar a melhorar esse cenário. Aqui vão algumas boas iniciativas:
Treine e qualifique mulheres
Se você não as encontra nos cursos formais de Ciências da Computação que tal começar a treinar e qualificar essas mulheres?
Essa tem sido a resposta de muitas empresas da área de tecnologia (e de outras indústrias) para diminuir essa lacuna de gênero.
A consultoria EY, por exemplo, lançou globalmente em 2019, o Women In Tech, um movimento que busca acelerar o fechamento do gap de gênero na tecnologia, tendo como principal foco encorajar meninas e mulheres a entrar e prosperar nas carreiras técnicas, garantindo cursos de formação para elas.
Use mecanismos e canais distintos de atração
As empresas precisam ampliar suas redes de recrutamento para atrair talentos diversos.
É normal cair em padrões de recrutamento, buscando talentos do mesmo conjunto de escolas, quadros de talentos ou associações locais.
Mas quantas empresas podem dizer que seus padrões de recrutamento estabelecidos estão gerando os melhores resultados quando se trata de representatividade feminina na área tech? Pense nisso antes de fazer mais do mesmo!
Remova o viés de gênero das ofertas de emprego
Você sabia que a linguagem e a estrutura das descrições de cargos podem ser tendenciosas. Pense: sua empresa está inconscientemente visando ou excluindo candidatas do sexo feminino na forma como comunica suas oportunidades?
Para responder a essa pergunta, examine se os cargos e pronomes das ofertas de emprego estão em uma linguagem neutra? As ofertas usam superlativos como “é essencial”? Os requisitos desejados excluem as mulheres?
Pesquisas mostram que é improvável que as mulheres se candidatem a um cargo a menos que atendam a 100% dos requisitos, enquanto homens se candidatam se atenderem a cerca de 60% dos requisitos.
Crie programas de mentoria e treinamento centrados nas mulheres
Com as mulheres em menor número nos locais de trabalho de tecnologia, os programas de treinamento e orientação que se concentram nas necessidades das mulheres podem ser uma maneira de criar mais apoio e reconhecimento dos objetivos e potencial de carreira das mulheres.
Encoraje proativamente os homens a serem mentores de suas colegas mulheres. Mas antes certifique-se de que as colegas mulheres tenham as mesmas oportunidades que seus colegas homens para participar do treinamento e adquirir novas habilidades.
Para você que aprecia a pluralidade de ideias na sua empresa, recomendamos ainda a leitura de um artigo que fala sobre a importância da diversidade e inclusão no mercado tech.